Outra peculiaridade? Aquela que me fez desenvolver uma expectativa de desenvolvermos um cooperativismo médico de alto mérito, mas que depois produziu a desilusão mais negativa, não por mim, mas pelo que poderia ter sido. Trata-se do IDESC (instituto para a Educação, Desenvolvimento e Pesquisa do Cooperativismo).
Fora do sistema Unicred, poucos ouviram falar. Sabe-se que o cooperativismo não tem uma grande história na América do Sul e no Brasil. Era mais conhecido o cooperativismo de trabalho (cooperativas rurais) e um pouco o cooperativismo de crédito, que havia sofrido um golpe severo, devido a gestões administrativas muito imperfeitas. Entretanto, apesar do nome de cooperativa “de crédito”, mesmo as nossas UNICREDS, são vistas por muitos não como organizações cooperativas, mas como bancos mais “amáveis” com os clientes. (Muitos não se consideram sócios, ou nem se importam. O mesmo acontece na UNIMED, onde alguns se acham meros “credenciados”.)
Como qualquer área da ocupação humana, o cooperativismo precisa contar com um sistema de informação, educação, avaliação e pesquisa continuados que possa aprimorar o conhecimento e os serviços das cooperativas, através de estudos, pesquisas, intercâmbios e cursos de qualificação e de aperfeiçoamento. Isso simplesmente não existe aqui. Mas nós tivemos o IDESC. Contamos com a parceria da Prefeitura Municipal de Taquari, que nos ofereceu a área de terra com todas as benfeitorias: prédio de três andares do antigo Seminário Seráfico São Francisco de Assis, com administração, cozinha, refeitório, residência e capela, nas margens do rio Taquari, em Taquari.
Contávamos com adesão da UNISINOS, para dar validade acadêmica aos diplomados nos nossos cursos. Algumas Unicreds se tornaram mantenedoras. A OCERGS (Organização das Cooperativas do Rio Grande do Sul) também aderiu ao nosso ideal, tornando-se sócia mantenedora, assim como a Cooperativa de Trabalho que englobava os funcionários que nos prestavam serviços. O Banco do Brasil acreditou no ideal do IDESC, abrindo um financiamento de R$6.000.000,00 de reais. E o IDESC estava em atividade, fornecendo cursos de qualificação, com titulação acadêmica pela UNISINOS.
O Governo do Estado, através do Centro de Pesquisas Agropecuárias, tornou-se nosso parceiro. Durante participação em Congresso Sul-Americano de Cooperativas, em Assunção, Paraguai, expus aos congressistas o que estávamos começando a fazer, e me ofereci para maiores detalhes, para obter parcerias. Vários personagens paraguaios, uruguaios e até argentinos, me procuraram, queriam saber se haveria possibilidade de pessoas de suas nacionalidades usufruíssem do IDESC, o que me deixou muito feliz.
Em Assembléia Geral Extraordinária, o IDESC teve a satisfação de ter apoio unânime de todas as Cooperativas Mantenedoras assumirem suas quotas de capital proporcional, o que traria ao IDESC real condição de trabalhar pelo futuro. Contudo, pouco depois, em 2005, após eleito o indivíduo candidato da cooperativa de Pelotas, para o cargo de Presidente da Cooperativa Central de Crédito do Rio Grande do Sul, este abriu os trabalhos da Assembléia Geral Ordinária para, fora da pauta, exigir a dissolução do IDESC, por falta de viabilidade, segundo ele. (Este mesmo indivíduo tinha feito um curso de qualificação no IDESC!)
Houve muita discussão, debates, confusão. Porém, resumindo, o temor gerado pela grandiosidade que o processo estava ocorrendo e a covardia de pessoas altamente colocadas, que não comungavam do mesmo ideal. Apesar da luta ainda mantida pela OCERGS, as Unicreds “mantenedoras”, que jamais tinham colocado um centavo para o sustento do IDESC, pois o mesmo vinha se sustentando com recursos próprios, gerados pelos cursos já realizados, e empréstimos a fundo perdido de alguns sócios (pessoas físicas), as Cooperativas Mantenedoras só forneceram recursos sob a forma de empréstimos, para sua “mantida”. Abreviando: fim do IDESC…
Curiosidade importante: as Cooperativas Mantenedoras jamais foram cobradas pelas pessoas físicas credoras (algumas inclusive com cargos diretivos em Unicreds), pois tinham (e tem) o ideal cooperativo, não querendo submetê-las a processos que seriam altamente danosos para elas, não só pelo valor dos desembolsos, mas pelo descrédito decorrente para elas.
Assim, morreu um ideal e ficou um grande vazio. Mas julgo correto que pelo menos as pessoas não envolvidas diretamente tenham idéia do que ocorreu faz não tanto tempo. Pergunta: será possível surgir alguma nova visão?