Bambam

Um dia meu pai chegou em casa de bicicleta com uma caixa na garupa. No lado de fora da caixa dava para ver a cabeça de um cãozinho. Eu e minha irmã, surpresos, nos aproximamos e vimos uma carinha toda branca. Antes de perguntarmos alguma coisa, meu pai falou: – Apareceu lá na loja e coloquei nesta caixinha e trouxe para casa. Ficou todo tempo com a cabeça para fora. Vim devagar pois estava com medo de que ele pulasse. As pessoas paravam e diziam; que cachorrinho bonitinho.

    Peguei ele no colo e nosso amor foi à primeira vista. Todo branquinho, com a carinha meiga que todo cãozinho tem. Uma felicidade encheu a casa.

    O nome, não tem nome. A escolha não foi difícil, – Banzé, alguém falou, – nome de um cachorrinho vira-lata, personagem de um desenho animado na incipiente TV Piratini. Toda família concordou e com o tempo ganhou o apelido de Bambam.

    Como era o mandalete, – cargo ocupado pelo meu irmão que transferiu para mim, ou seja, o menor -, no dia seguinte tinha que fazer compras no armazém “A Cantina”, um tipo de supermercado de antigamente, tinha de tudo. Meus pais gostavam de fazer compras lá. Além dos donos serem italianos, tínhamos “caderneta” onde tudo era anotado e o pagamento era feito no final do mês ou quando possível, uma espécie de cartão de crédito sem os juros exorbitantes.

    Todo bobo, amarrei no pescoço do Banzé numa cordinha e fomos as compras felizes da vida. O armazém era um pouco longe, mais ou menos um quilômetro de distância, na esquina da Rondon com a Wenceslau Escobar. Na volta ele já estava cansado e parava para dormir. Como não queria machucá-lo e não podia carregá-lo, minhas mãos estavam ocupadas com as compras, dava um tempo para ele se restabelecer. Demorei tanto para chegar em casa que minha mãe ficou preocupada e pediu para minha irmã me encontrar. Também, fui bancar o grã-fino com cachorrinho na coleira.

    Ele cresceu se tornou um cachorro de porte médio para grande. Todo branco. Diziam que era uma mistura de Vira-lata com Ovelheiro.

Ficamos inseparáveis. Chegar em casa era uma festa. Me abraçava pulando em mim. Acho que o Roberto Carlos fez a música; o Portão, pensando no Bambam: “Eu cheguei em frente ao portão. Meu cachorro me sorriu latindo”.

    Quando ficava doente, às vezes, até dois meses sem caminhar. Ele ficava junto comigo debaixo da cama e não saia de jeito nenhum. Meu pai que não gostava de cachorro dentro de casa teve que aceitar.

    Ao entrar na faculdade tínhamos que fazer cirurgias em cachorros. Com sofrimento, sempre me lembrava do Bambam. Uma verdadeira tortura.

    Foi ficando velho e já não enxergava bem. Um dia saiu por aquele portão que sempre me recebia e foi atropelado em frente de casa. Quando cheguei da faculdade; minha mãe muito preocupada com a minha reação, sem jeito para me contar, disse: – Ele morreu na hora, pelo menos não sofreu. Esperamos tu chegar para se despedir dele.

    O choro foi abundante. Morreu meu grande e velho amigo. Pegamos uma pá e nos fundos de casa cavamos um buraco e enterramos o Bambam. Toda a família participou da cerimônia. Era querido por todos. Meu amigo de fé, que estava ao meu lado nos piores momentos. Fui fiel e nunca mais quis ter cachorro. Bem mais tarde, casado com filhos tivemos a Peca, o Tob e o Papucho. Uma alegria para as crianças, mas nenhum substitui o Banzé no meu coração.

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