Em 2001, decidi voltar a ser diretor geral do HPS. As razões da minha volta eram: terminar a obra do prédio anexo, que estavam enroladas, e também desejava terminar a UTI pediátrica do trauma, voltada somente para crianças vítimas da violência urbana, na época única no Brasil. Porém, o objetivo principal era criar uma fundação de direito privado para ajudar a completar o plano diretor traçado na minha gestão anterior.
Como trabalhava, na condição de cirurgião, também na Santa Casa e tinha admiração pelo trabalho ali desenvolvido, observava seu crescimento e a união com a sociedade na criação de novos serviços e hospitais. Confesso que como gestor sentia um pouco de inveja. – Por que não poderia também ser feito num hospital publico, como o HPS, que tem tanto apelo com a população como a Santa Casa? Perguntava-me.
A nós cabia visualizar o HPS para o século XXI, criando novas perspectivas assistenciais voltadas às novas demandas sociais.
Então, o primeiro passo foi formar um Conselho Curador, ou seja, pessoas da sociedade que tivessem desejo de ajudar, com ideias e sugestões, enfim participar do futuro do hospital.
Por incrível que pareça, o primeiro obstáculo foi no Conselho Municipal de Saúde, implicaram com o nome “conselho”. Não poderia ter esse nome, pois faria confusão com o deles. Pensamos, pensamos e, para não complicar, trocamos o nome para Mesa Curadora.
Com aval do Secretário de Saúde e do Prefeito, partimos para escolhas de nomes da sociedade para sua formação. Após muitas discussões, formamos a Mesa Curadora com empresários, jornalistas, artistas membros do Poder Judiciário, Brigada Militar, enfim toda a comunidade do Estado estava representada.
Fazíamos reuniões mensais e um dos componentes sugeriu convidar o Dr. Sílveiro, grande advogado que tinha criado várias fundações pelo Brasil afora. Uma pessoa excepcional, com grande cultura e saber jurídico. Ele prontamente aceitou participar da mesa e começamos a traçar a formação da fundação. Após meses de elaboração, com várias idas e vindas cos mesários, Procuradoria do Município e a chefia de gabinete do Prefeito. Aprontamos nos pequenos detalhes o seu estatuto, e a mesa curadora deixou de existir, dando lugar à Fundação Pró-HPS.
No dia 19 de abril de 2004, na data dos 60 anos do hospital, foi feito o seu lançamento oficial. Enfim, tínhamos uma instituição que poderia captar recursos, além do orçamento, em diversos setores da sociedade, para ampliar e qualificar o Hospital.
O primeiro diretor presidente da fundação foi o próprio Dr. João Carlos Silveiro, que disse: – O HPS é efetivamente a segurança em saúde de nossos filhos, nossos familiares, acolhe a todos gratuitamente e deve ser recompensado pela comunidade.
Foi uma conquista importante; em três anos, num hospital público, durante um governo que diziam que era estatizante, criar uma fundação de direito privado, com um estatuto que daria várias possibilidades de ajudar e concluir completamente o plano diretor do hospital, era uma vitória e tanto. Realmente era um sonho, e fomos em busca desse sonho. Nunca abdicamos dele, mesmo com todas marchas e contramarchas.
Por estar na direção do hospital, não me coloquei como membro da fundação, justamente para ela ter maior autonomia. Não tinha a intenção de continuar na Direção Geral do HPS, porém tinha intenção, após o termino da minha gestão, em participar da Fundação. Achava mais do que justo, pois idealizei, liderei e incentivei a sua criação. Para minha surpresa, os novos dirigentes de Porto Alegre me excluíram totalmente da Fundação.
O novo Prefeito e seu vice, que era médico e, portanto, responsável pela área da saúde, vetaram minha participação. Nunca me disseram o motivo, mas certamente porque fui diretor do hospital durante vários anos com outro partido politico. Era um absurdo, pois a fundação era suprapartidária. Tinham sidos convidados a fazer parte pessoas de vários setores da sociedade. Não olhamos suas ligações partidárias ou ideológicas. Inclusive, tinha convidado pessoalmente para ser vice-presidente da Fundação uma pessoa que estava exercendo o cargo de assessor do Governador de então, que era de outro partido politico.
Fiquei muito chateado, não conseguia entender; a ideia foi minha e lutei muito para a sua formação, e agora estava fora.
Acompanhava de longe o destino do Hospital e a sua Fundação. Fiquei sabendo que o Dr. Silveiro logo depois se afastou da presidência. Um ano após, o novo presidente, que não fazia parte da formação original, um empresário de renome na cidade, pediu para falar comigo.
– Quero conversar contigo, porque os membros da Fundação só falam no teu nome e querem que tu voltes, gostaria de te conhecer, disse.
Fiquei alegre, pois gostaria de continuar a lutar pelo HPS e ajudar a concluir o plano diretor e disse: – Sem problemas; jogo em qualquer posição.
Esperei um tempo e nunca veio o convite. Como era cirurgião de carreira, empregado do Município. Continuei no plantão como médico. E fui colocar minha energia e sonhos, para o bem da sociedade, no local onde tinha aquela admiração e uma “boa inveja”, no Hospital Santa Clara da Santa Casa.